Ele poliu carros de luxo por 10 anos em Los Angeles - e aí os agentes de imigração apareceram 346o3e
A BBC obteve imagens de câmera de segurança de uma batida que mostra como a repressão à imigração do presidente Trump escalou. 6s3s26
Quando os agentes de imigração pararam em frente a um lava-rápido de Los Angeles em uma tarde tranquila de domingo, o caos se instalou imediatamente. 1ia29
Alguns clientes do Westchester Hand Wash, que fica no centro de uma movimentada área comercial a apenas alguns quarteirões do aeroporto da cidade, ficaram sem ação quando os agentes em uniformes verde-oliva se aproximaram, conforme mostram imagens de câmeras de seguranças às quais a BBC teve o.
Dois funcionários que avistaram os agentes se esconderam atrás de um SUV de luxo que estavam limpando com um pano. Outro funcionário, que estava limpando o vidro traseiro de um carro, levantou o olhar.
Então, de uma só vez, eles se dispersaram e começaram a correr, alguns pulando uma cerca próxima, enquanto eram perseguidos pelos agentes a pé e em caminhonetes do Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.
Os agentes voltaram no dia seguinte para efetuar mais prisões.
Jesús Cruz, que trabalha no lava-rápido há mais de uma década e vive nos EUA há mais de 30 anos, estava entre os seis homens que foram presos durante as duas batidas.
Sua esposa, Noemi Ciau, contou à BBC que estava fazendo compras com a filha quando viu uma publicação nas redes sociais sobre uma possível batida. A publicação incluía uma foto do lava-rápido, então ela deixou a filha em casa, e correu para lá.
Quando ela chegou, no entanto, já era tarde demais. Desde então, ela não conseguiu falar com o marido.
"A gente fica tão acostumada a ter um parceiro para ajudar, para ser um alicerce... agora, eu fico pensando — como vou fazer?", desabafa.
"Meu marido não tem antecedentes criminais. Ele nunca recebeu uma multa. Pagamos nossos impostos. Estamos em dia com tudo."
O Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) não respondeu a uma consulta feita sobre a situação legal de Cruz nem sobre o objetivo da operação no lava-rápido.
Esta batida e outras semelhantes em Los Angeles representam uma escalada significativa na estratégia da Casa Branca de prender e deportar imigrantes indocumentados.
Durante a campanha eleitoral, o atual presidente Donald Trump disse várias vezes que daria prioridade à deportação de não cidadãos acusados de crimes violentos. Esta promessa recebeu amplo apoio, mesmo entre grupos de imigrantes hispânicos.
No entanto, nas últimas semanas, o governo intensificou suas metas, pressionando para aumentar o número de prisões de cerca de 660 para 3 mil por dia.
Para isso, eles ampliaram sua rede, visando não apenas criminosos, mas também locais de trabalho onde muitos migrantes indocumentados realizam trabalhos que são vitais para a economia — de agricultura a manufatura — e pagam impostos.
"Simplesmente vá até lá, e prenda os estrangeiros ilegais", teria dito Stephen Miller, um dos principais conselheiros da Casa Branca, aos agentes do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês) antes de iniciarem as recentes batidas em Los Angeles.
De acordo com o Wall Street Journal, ele disse a eles que não era preciso preparar listas com os nomes de imigrantes ilegais suspeitos, uma prática de longa data, e que, em vez disso, deveriam invadir grandes empresas para prender o maior número possível.
O proprietário do lava-rápido, Mehmet Aydogan, contou que os agentes não pediram documentos de identificação antes de algemar os homens e levá-los embora rapidamente.
"Eles não estavam fazendo nada de criminoso", diz ele, observando que as batidas foram rápidas e duraram menos de um minuto. "Todos são trabalhadores."
Dias antes, outra operação na Ambiance Apparel, uma empresa atacadista de roupas no Fashion District, próximo ao centro de Los Angeles, deixou a cidade em estado de tensão.
Mais de uma dúzia de pessoas foram presas, segundo testemunhas, embora o DHS não tenha respondido a uma consulta feita pela BBC sobre esta operação e o número total de prisões.
O czar da fronteira, Tom Homan, negou que os agentes estivessem realizando uma operação de imigração na Ambiance. Ele disse que se tratava de uma investigação criminal que também revelou imigrantes indocumentados.
"Eu disse isso desde o início: se você está ilegalmente no país, você não é carta fora do baralho", afirmou ele ao New York Times recentemente.
Enrique Lopez foi uma das várias testemunhas que começaram a postar no Instagram sobre a operação, antes de um grande grupo de manifestantes se reunir do lado de fora, tentando impedir que os trabalhadores fossem levados.
As autoridades acabaram usando bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para abrir caminho pela multidão — um dos primeiros protestos na área de Los Angeles desde que a onda de batidas de imigração começou.
"É triste que sejam pessoas trabalhadoras", disse ele sobre os presos. "E eles estão tentando fazer parecer que são pessoas ruins".
Os protestos eclodiram em 6 de junho, com confrontos entre manifestantes e agentes federais nas ruas, antes de se espalharem mais amplamente e, em algumas ocasiões, se tornarem violentos. Centenas de pessoas foram presas, e um toque de recolher noturno está sendo imposto em uma região.
As agências de imigração afirmaram que os protestos não vão impedir suas operações. O presidente Trump mobilizou a Guarda Nacional e os fuzileiros navais para ajudar a garantir que a repressão à imigração continue.
Estas batidas atingiram especialmente o Condado de Los Angeles, onde estimativas sugerem que mais de 900 mil pessoas não têm status legal — cerca de 10% da população.
Os hispânicos aqui superam qualquer outra origem étnica por uma grande margem — e muitos na comunidade que são cidadãos ou residentes legais têm familiares indocumentados.
"Não posso enfatizar o suficiente o nível de medo e terror que está tomando conta dos moradores de Los Angeles neste momento" afirmou a prefeita da cidade, Karen Bass, em entrevista coletiva.
"Eles não sabem se vai ser amanhã ou hoje à noite. Pode ser onde moram. Pode ser no local de trabalho. Será que deveriam mandar os filhos para a escola? Deveriam ir trabalhar?"
As redes sociais têm sido usadas para informar as comunidades sobre o surgimento de autoridades de imigração, mas também para espalhar desinformação.
A preocupação fez com que uma organização sem fins lucrativos de uma minoria local pedisse aos indocumentados que ficassem fora de vista. Ela ofereceu voluntários para resolver algumas coisas e fazer compras para as famílias, para que pudessem ficar em casa.
Os moradores dizem que é um mistério quando e onde os agentes de imigração vão aparecer em seguida.
As agências de imigração normalmente não anunciam onde as batidas aconteceram, nem anunciam todas as prisões ou onde os detidos estão sendo mantidos ou presos — o que aumenta a ansiedade.
Ainda não se sabe exatamente o que vai acontecer a seguir, já que as batidas continuam.
Nos últimos dias, as batidas em todo o país resultaram em centenas de prisões, inclusive em operações recentes em setores agrícolas e em uma fábrica de empacotamento de carne em Nebraska. Em resposta, surgiram protestos em todos os cantos do país, inclusive em grandes cidades como Nova York, Dallas, Washington e Boston.
"A Califórnia pode ser o primeiro (Estado) — mas está claro que não vai parar por aqui", declarou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, em um discurso na noite de terça-feira. "Outros Estados serão os próximos."
A advogada de imigração Karla Navarrete, que está representando várias pessoas que foram presas nas batidas migratórias, disse que as prisões em massa sobrecarregaram o sistema.
Os bancos de dados não estão sendo atualizados com as prisões, as famílias e os advogados não conseguem encontrar as pessoas que foram detidas e, quando encontram, a pessoa às vezes está em um Estado diferente ou já foi deportada para o país de origem.
Ciau, cujo marido foi preso no lava-rápido, disse que ficou sabendo no fim de terça-feira (12/06) que ele não estava mais em Los Angeles, nem sequer no Estado da Califórnia.
Ela foi informada por seu advogado que Cruz está sendo mantido em um centro de detenção em El Paso, no Texas, a mais de 1.300 quilômetros de casa.
Segundo ela, o filho mais novo — um menino de cinco anos — está tendo mais dificuldade em lidar com a situação.
"Ele fica perguntando pelo pai. Não sei o que dizer a ele", acrescentou, em meio a lágrimas.
"Ele não entende o que está acontecendo. Ele ainda acha que o pai está no trabalho."